terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Oco, e vice-versa

Quando o tédio ameaçava tomar conta dela, surpreendeu-se cheia de uma vontade eufórica de escrever. Como milhares de vezes antes, sentou-se na cadeira giratória em frente ao monitor, abriu uma caixa de texto vazia, e então... nada. Frustrada, percebeu que não sabia sobre o que escrever. Decidiu vasculhar a mente em busca de algo do qual pudesse falar.

Pensou em escrever sobre livros. Na verdade, tinha vários textos sobre leitura já começados, mas por alguma razão não conseguia terminá-los. Talvez fosse porque ela não quisesse realmente falar sobre livros. Talvez o assunto tivesse surgido tantas vezes apenas porque, além de ser algo do qual gostava, faria com que parecesse intelectual. Sentiu vergonha de si mesma. Não, não queria escrever sobre livros.

Refletiu, e concluiu com pesar que não conhecia o mundo o suficiente para escrever sobre a atual conjuntura. Não acompanhava jornais - fato que, pensou ela, teria de ser mudado com urgência -, não gostava de História ou Geografia, seus conhecimentos filosóficos eram vergonhosos. Não poderia escrever sobre algo tão grande e do qual sabia tão pouco. Decidiu então não falar sobre o mundo.

Poderia falar sobre um fato interessante ocorrido com ela!... Mas não encontrou nenhum evento muito interessante em sua vida, e fazer com que acontecimentos desinteressantes se tornassem interessantes exigia uma habilidade narrativa que não possuía. Bufou, irritada.

Mas precisava escrever, fosse sobre o mundo, livros ou causos. Então decidiu-se: usaria e abusaria da metalinguagem. Descreveria sua luta, não com as palavras, como Drummond, mas com a essência de seu texto, e sua ânsia por escrever. Escrever apenas por escrever. Escrever sobre o ato de escrever. 

Talvez devesse mesmo ter escolhido trabalhar com as Letras, pensou ela. Lembrou-se que não possuía assunto nem talento para tal. Abriu uma garrafa, inseriu seu texto, jogou-a no mar e foi dormir.