sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A dor de deixar para trás

Estou a mais ou menos dez meses de me formar e terminar a escola para sempre. Eu frequento a escola desde os quatro meses de idade, e não me imagino em outra rotina. É claro que as mudanças entre o colégio e uma faculdade ou um cursinho não são tão gritantes - continuarei estudando, afinal. Mas são mudanças, e, como todas na vida, me deixam assustada. É como respirar fundo e dar passos no escuro. E, acho que pouca gente sabe disso, eu morro de medo do escuro.

Minha vida foi sempre muito segura. Sempre me senti amada e cuidada, e não costumava olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, pois sempre havia alguém maior segurando minha mão. Não sei até que ponto isso foi bom pra mim, e não discutirei isso agora. Isso fez crescer um desejo ardente e idiota de libertação, que ainda possuo, mas que se atenua conforme minhas amarras são cortadas. É o velho colocar a felicidade onde você não está; quando você chega lá, vê que não é como imaginava. Sei que é só um tranco, e que logo me acostumarei. Na verdade, gosto de ter minha própria vida. Tudo tem vantagens e desvantagens, afinal.

Quanto à escola, especificamente: não vou me alongar sobre o amor que tenho ao colégio em que estudei nos últimos seis anos. Soaria clichê e eu seria acusada de puxa-saquismo. Contudo, não posso deixar de falar que eu amo aquele lugar. Amo mesmo, é até esquisito. Parando pra pensar, eu amo de verdade verdadeira poucas coisas na vida. Minha escola é uma delas. Desde os professores aos meus amigos, desde o pátio estreito ao mural em cima do bebedouro! É como se eu fizesse parte desse lugar. E, pra falar a verdade, eu me sinto tão querida lá quanto entre meus familiares.

É por isso que dói tanto ir embora. As pessoas com quem eu costumo conversar já estão quase me apagando com um porrete, e eu sei que eu encho sofrendo por antecipação. A essas pessoas que ainda não me deram um sossega palhaço, parabéns pelo saco admiravelmente grande. Eu odeio ser obrigada a ir embora. Essas são amarras que eu gostaria que nunca fossem cortadas. Muitos desses caras não têm ideia de que eu os amo. Mas, é isso, c'est la vie, não há nada que eu possa fazer. Há 78942189 caminhos à minha frente, e o que me cabe é escolher o que me parece mais viável. Sem mãos para me guiarem. Irrevogavelmente, atei laços de afeto que, espero, jamais serão desfeitos.

Chega de melodrama. Eu nem sei por quê estou postando isso, um texto tão íntimo, tão ridiculamente piegas e mal escrito. A possibilidade de TPM está descartada. Eu normalmente escrevo coisas assim, mas deixo salvas nos rascunhos, nunca publico. Por vergonha. Estou cansada de me podar, e ardendo de vontade de postar um texto impulsivo como esse. Como já dizia o filósofo Lulu Santos, vamos nos permitir!

2 comentários:

  1. Nossa, Marina, lendo seu texto voltei no tempo para 1998, então na oitava série (hoje, nono ano). Eu havia estudado com a mesma turma desde a primeira série (segundo ano). Eu estava com catorze anos e havia passado oito anos da minha vida com a mesma turma e no colegial iria estudar em outra escola. Fiquei atordoado por alguns meses.

    Não tenho palavras confortantes, nem um exemplo passando a ideia para você não ficar com medo do desconhecido. Esse tal é inerente a nós, em minha opinião.

    Gostei do texto.

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  2. No final de 2010 eu estava mandando meu currículo para vir trabalhar em São Paulo. Sempre morei no interior e essa mudança, embora estivesse determinado a vir, me causava medo, talvez esse mesmo medo que você descreveu lindamente.
    Pois bem, conversei com um tio meu e ele me disse algo fantástico. Foi mais ou menos assim:

    "Lucas, você não vai se livrar desse medo, ele faz parte da gente. O que você deve fazer é ir com ele para São Paulo"

    Achei formidável e melhor ainda seu exemplo para reforçar o argumento. Ele morava em Matão e trabalhava na prefeitura, quando mudou o prefeito ele sabia que cedo ou tarde iria ser mandado embora. Então foi chamado para trabalhar em São Carlos em uma empresa que hoje é multinacional. Ele estava apavorado pois seu diploma era de uma faculdade particular pequena de Araraquara e ele teria colegas de trabalho da USP e Ufscar, estava casado e com duas filhas para sustentar. Ele foi com medo e tudo!!!

    E deu certo.

    P.S.: as aspas são falsas, pois não sei ao certo as palavras exatas dele, mas o sentido foi preservado.

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